Você entende o verdadeiro sentido das coisas? (crônica inédita)



Tangerina, bergamota, mexerica, vergamota, clementina, mimosa..., não importa (parte 1): é tudo a mesma fruta. Sem rotular, ela simplesmente é Citrus reticulata em essência.

Massa, maneiro, irado, sinistro, show, animal..., não importa (parte 2): todas as gírias querem dizer a mesma coisa; algo muito legal, algo bom.

Balada, noite, noitada, boemia, 'inferninho', a-noite-é-uma-criança..., não importa (parte 3 e última - risos): todas as palavras buscam o entretenimento (ou chame do jeito que quiser).

Auto-ajuda, DIY ('do it yourself' / faça-você-mesmo), Autoconhecimento, Auto-análise, introspecção meditativa... Ih...

Refiro-me aqui ao Autoconhecimento. O desvendar da mágica da ilusão em pleno palco, independente do quanto o mágico/ilusionista se esforce para manter o mistério. Mister M foi amado e odiado por muitos, quando determinado a parar de enganar a mente humana, mesmo que por pura diversão.

Há quem se assuste com o que lê/vê/sente, uma vez que veremos os fatos através de nossas experiências, valores familiares ou culturais ou quaisquer outros véus/filtros ou pontos de vista individual/interno.

Se fosse para confiar somente no que os olhos vêem ou lêem, sem o uso do raciocínio/intelecto/lógica/referências de cada ser humano, mergulharíamos, por exemplo, em cachoeiras pintadas tridimensionalmente no asfalto de uma rua, pensando ser de fato uma cachoeira, visto que o artista é extremamente talentoso com detalhes e dimensões, ao ponto de criar uma real ilusão de ótica.

Link: http://www.estimulanet.com/2009/03/incriveis-pinturas-em-3d-no-asfalto.html#axzz2NY6z5GVm

Correríamos o risco de ficarmos facilmente hipnotizados por imagens em P&B de gráficos que, ao girarem em sentidos aleatórios (rotativo, em espiral, por exemplo), desencadeando reações/atividades a nível cerebral que sequer temos conhecimento/controle.

Poderíamos acabar comendo frutas de cera, como maçãs, cajus, que, em mãos habilidosas de artesãos, tornam-se tão reais quanto as frescas frutas colhidas dos pés.

Assistiríamos novelas e acreditaríamos serem de verdade seus enredos mirabolantes, que alegam 'imitar-a-vida'... Nessa brincadeira de quem-imita-quem, a arte se mistura com a realidade e tudo viraria uma grande encenação, uma ilusão de ótica... Afinal, quantas vezes nos deparamos com a informação que o casal de mocinhos da novela está, 'na vida real', namorando também? Em quantas cenas de novela percebemos um claro merchandising de produtos que existem à venda nos supermercados da vida real, quando enaltecem as maravilhas que aquele café é ou como aquele esmalte ou tintura de cabelo é especial. Isso tudo dito com uma naturalidade de script, de fala pronta, mas em uma embalagem tão, mas tão natural e espontânea... Outro fator curioso é quando uma personagem vilã torna-se tão, mas tão marcante que: ou a atriz não consegue trabalhar em novela alguma mais (quem se lembra da Odette Roitman? risos) ou acabam por se tornar realidade no inconsciente coletivo, ao ponto de apanhar na rua por conta de sua personagem?


Onde quero chegar com isso? Simplesmente dar a chance de desbloquear padrões antigos, de reavaliar conceitos individuais.

Adoro opiniões sinceras. É justamente ouvir o que o outro tem a dizer é que torna a questão toda valer à pena, ser enriquecedora. A recompensa em escrever alguma coisa está justamente no objetivo maior: todos têm opiniões formadas sobre tudo, como diria Raul Seixas. Como nem todos entenderam o verdadeiro sentido de suas músicas, foi taxado de hippie doido. Talvez ele até tenha sido um hippie doido, mas não é isso que coloco em questão aqui: será que ele era "só" um hippie doido? Será que não tinha um ideal maior, onde fundar uma nova e libertária religião ou uma nova ordem mundial frente ao capitalismo/socialismo na época dele era o que ele acreditava ser a liberdade?Será que ele não queria questionar, fazer pensar também?

É... Como algumas pessoas gostam de rotular. Só que não somos produtos que ficam em seus displays (virtuais ou não), muito menos custamos R$ 1,99 no mercado. Gosto do que os americanos adoram dizer, que é o termo one-of-a-kind. Somos únicos e especiais, todos nós. Somos co-criadores desse universo de meu Deus. Pense comigo: não é você que determina como vai ser o seu dia, o que vai fazer? Ou você simples e mecanicamente cumpre com o que está previsto na sua agenda do dia?

O possível e temido 'flerte' da auto-ajuda: como em uma pescaria, há quem fisgue seu peixe pelo anzol logo de primeira. Às vezes o peixe fica perto, ali como-quem-não-quer-nada rodeando a isca, 'paquerando' o anzol, mas não morde a mesma. Há outros tipos de peixe, como os 'espertinhos', 'malandrinhos' que encontram uma forma de mordiscar a isca, mas sem ser fisgado pelo anzol, só ali comendo-pelas-beiradas.

A meu ver, um 'denominador' comum nessa brincadeira é que, em todos os casos, o interesse pela isca é inegável. Algo mais forte do que o próprio peixe parece existir. Uma força curiosa em saber o que-se-passa naquela questão em específico...

Afinal, 'como-posso-rotular-aquilo-que-parece-ser-até-então-desconhecido-e-que-não-posso-ignorar-a-existência?'

Arrisco ilustrar um pensamento de um curioso (e hipotético) peixinho do oceano: 'Caramba... Que gosto será que tem essa apetitosa isca que insiste tanto em balançar a superfície...?'

(riso)

Dizer o que se pensa é arriscar abrir o canal, descortinar o véu, oferecer a mão para ajudar a atravessar pontes.

Uma longínqua história já apontava nesse mesmo horizonte: em certa Grécia Antiga, num certo local chamado Oráculo de Delfos, onde certo homem se fez maior que si mesmo, chamado Sócrates. Aquele que nunca escreveu uma palavra do que disse, cabendo Platão registrar o que foi de interesse, como um fiel discípulo faria.

Nesse templo, os mortais explicitavam suas questões aos deuses em busca de orientação em suas decisões pessoais. Aposto que conhece uma famosa frase: "Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.". Estava no templo do Oráculo de Delfos, logo em sua entrada. Sócrates, um dos grandes 'contribuintes' frente à humanidade, buscou estimular o constante aprendizado em lidar consigo mesmo e seus mundos interiores, estimulando assim a busca pelo autoconhecimento e evolução como indivíduo.

Nélida Piñon, uma imortal da Academia Brasileira de Letras, escreveu um artigo mega interessante sobre isso que falo aqui. Vale à pena ler.


Refletir sobre si mesmo não é auto-ajuda. Auto-ajuda é chover-no-molhado. É dizer a você mesmo o que você já sabe, dentro da sua visão de mundo. É o lugar-cômodo, onde você vê somente seu umbigo. Autoconhecimento é você ver o seu mundo interior frente a uma perspectiva externa. Não ter pena-de-si-mesmo e enfrentar os leões.

Tem um filme que ilustra ludicamente a questão do que-você-realmente-entende: Sem Limites, com Bradley Cooper no elenco.


Esse filme me inspirou. Inspirou-me a me desafiar. Decidi criar um lúdico desafio com a personagem do filme, Eddie Morra, que escreveu em 4 (quatro) dias seu livro. Sim, ele usa um comprimido, desses que os americanos apelidam de 'smart-pills'. Os universitários americanos acabam sendo cobaias voluntárias e tomam cápsulas que prometem desbloquear seu cérebro e você usar 100% de si mesmo, de sua capacidade, só para passar em provas da faculdade.

Ora, pensei comigo: "Deus realmente nos daria um cérebro que só podemos atingir o máximo de ‘performance’, ainda por cima somente usando algo artificial? Lógico que não. Deus nos quer puros e completos, o Homem Integral, como Joanna de Ângelis nos explicitou no respectivo livro. Sermos inteiros em um mundo aparentemente incompleto é o objetivo, a meta, o alvo.”


Escrevi o Crônicas e Absinto não em 4 (quatro) dias, mas em menos de 10 (dez) dias. Não usei comprimidos miraculosos, e sim usei o poder pessoal que Deus deu a todos: a força de vontade em se superar. A força em criar uma meta pessoal e alcançá-la. Ir além do será-que-consigo-escrever?... Ultrapassar seu limite e assim expandi-lo, tornando-se uma versão melhor de si mesmo.

Decidi por explicitar minhas idéias, para que cada leitor tenha o espaço de pensar 'fora da caixa'. A 'guinada' que menciono é justamente a oportunidade do Despertar para o mundo.

Autoconhecimento é a coragem de desbravar mundos, conhecer o que até então era desconhecido. Para que se viaja, se estuda em intercâmbios em outros países, fazemos cursos, lemos livros e jornais, assistimos a filmes? A meu ver, para alargar a visão de mundo, para ‘saber’.

Afinal, mergulhar segurando-a-respiração-num-fôlego-só, usar snorkel, cilindro de oxigênio ou fazer apneia em oceanos profundos não é a mesma coisa; não dá-no-mesmo.

Pelo menos é o que eu penso: e você?