Apostas (crônica inédita)







Há quem aposte em cavalos. Outros, em uma pequena bolinha perolada branca, que insiste em girar e girar e girar, até escolher, aleatoriamente, um dos vários números pretos/vermelho/verde. Há quem aposte em quem perde mais peso em reality shows, outros em quem pisca ou ri primeiro.


O ser humano brinca, todos os dias, em apostar. Aposta sempre tudo ou nada, sem perceber. Basta apostar consigo mesmo, se é capaz de atravessar a rua com o sinal verde para os carros e vermelho para pedestre, e verificará, por si mesmo, se ele não está ali, apostando a própria vida.

Como nos filmes, os russos são mais inconsequentes, por assim dizer, apostando a vida em uma outra roleta, a russa, onde o risco está em acertar a menor probabilidade e, assim, encontrar a única bala no tambor do revolver. Apostas loucas, por puro hobby, onde a recompensa é o dinheiro.


Os americanos brincam de apostar entre si, por exemplo, em quem come mais hot dogs no menor tempo. Já os alemães, apostam quem será o menos friorento e ser capaz de mergulhar em um lago congelado, de temperatura negativa, só para comemorar o Natal.



Em vésperas de Copa do Mundo, a ser realizado na casa do país entitulado ‘país do futebol’, onde coroou um único rei até hoje (que eu saiba, pelo menos, só o Pelé), dentre tantas gerações de ricos talentos... Por pura diversão, penso que os brasileiros deviam apostar no futebol, mais em específico, em um único jogador. Como no jogo de poker, apostar “all in, baby”, e escolher “a-q-u-e-l-e” jogador que acha aque fará a diferença.

Seja ele goleiro, atacante, da defesa ou meio-campo, pense e escolha alguém, que será seu ‘rei do momento’, sua ‘aposta pessoal’. É um lúdico desafio, brincar de ‘profetizar’. Alguns exemplos a dar são: Romário na Copa de 94/EUA, Taffarel e sua ‘saga’ em agarrar todos os penalties que conseguia, um atrás do outro. Li por aí que Maradona, o argentino, já fez sua marca em uma das Copas da vida futebolística.

Curioso escolher um talento. Há de se ter visão do que aquele jogador pode aflorar, vir a crescer como esportista ao longo do campeonato. Ser esse o talento a ganhar o seu voto-de-confiança, e ser sua aposta. Não falo de dinheiro, falo de sentir aquela felicidade em torcer, como uma nação única de brasileiros, ver a camisa amarela entrar em campo. Felicidade pura que só o esporte oferece, torcer pelo bem ou sucesso de alguém, do time.

O capitalismo é antropofágico por ser competitivo... Mas onde está escrito que você só tem o ‘que é seu’, se o outro deixar de ter ‘o dele’? Em lugar nenhum, além do inconsciente coletivo e seus cristalizados dogmas. Todos, todos mesmo, têm sua chance. Enquanto estamos vivos, Deus renova essa chance, todos os dias que acordamos nesse mundo.

Eu escolhi o Hernanes, camisa 8. Em uma copa anterior, minha aposta havia sido em um jogador levemente tímido, tipinho do interior, que ficava na dele, sem muito alarde, ainda um tanto anônimo. O nome dele? Fred. Entrava sempre no comecinho do segundo tempo. Assim que entrava, em menos de dez minutos, ele fazia o gol que tanto aliviava a pressão no campo brasileiro. Naquela Copa, minha ‘aposta’ rendeu gols :) .

Atualmente, pensei no Hulk: afinal, ele é “o” Hulk. Tem também o menino-gigante Oscar, que para mim, corre por fora sem pegar vácuo de ninguém, sendo a ‘Zenyatta’ do futebol: ele é além de uma aposta; ele  é uma certeza. Não sei bem explicar em palavras: apenas torcer, por torcer, não basta. Tem que imaginar um algo-a-mais, a vontade nos olhos, ver a fagulha de luz, o se posicionar da melhor forma para receber a bola e fazer o gol, sem disperdícios, acertando o ‘alvo’... Tentar por tentar, por protocolo, fazendo só para se manter na posição, o ‘quase conseguiu’ por não acreditar na jogada e não correr o suficiente, para mim não dá.


Tem que se mostrar presente, querendo, a fim de fazer o que se tem que fazer, que é gol. Alinhando os reis do futebol com o Olimpo e os deuses dos céus, onde carisma e sinceridade andam de mãos dadas, livres por não terem marcas patrocinadoras que dão discursos prontos só para os jogadores repetirem, ou dizerem pouco além do clichê futebol-é-assim-mesmo. O jogador que fala o que pensa, esse sim é o que fará a diferença em campo, por pura personalidade explicitada.

Futebol é arte porque é feito de precisão, de ângulos, de velocidade, de parábolas, de trajetórias, de campo de visão e marcação, de garra, criatividade e coração.

Como disse uma expressão uma vez, uma professora que admiro muito dos tempos de faculdade, aqui a usarei, mas não para citar economia, mas o futebol: futebol é briga-de-cachorro-grande.

Há quem aposte no Chicharito do México para a Copa 2014, o Forlan mostrou na Copa anterior que fez a parte dele, fazendo gol inclusive do meio do campo uruguaio, ao ponto dos brasileiros se renderem e o contratarem, mesmo anos depois. Minha ‘aposta’ é deixar a Copa do Mundo ainda mais divertida e escolher o ‘iluminado’.


Senhoras e Senhores, façam suas apostas: escolham seus números e boa sorte  :) .